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Alfredo Volpi foi um Pintor excepcional. Com uma trajetória singular e passagem por distintas vertentes da pintura, Volpi destaca-se por suas paisagens e temas populares e religiosos, como a série de bandeirinhas de festa junina. Em 1897, chega ao Brasil com pouco mais de um ano e instala-se com a família no Cambuci, tradicional bairro de São Paulo. Estuda na Escola Profissional Masculina do Brás e, na juventude, trabalha como marceneiro, entalhador e encadernador. Em 1911, inicia a carreira como aprendiz de decorador de parede, pintando frisos, florões e painéis de residências.
Na mesma época começa a pintar sobre madeira e tela. Participa pela primeira vez de uma exposição coletiva no Palácio das Indústrias de São Paulo, em 1925, momento em que privilegia retratos e paisagens. Por causa da grande sensibilidade na representação da luz e da sutileza no uso das cores, é comparado aos impressionistas. Outras obras da década de 1920, no entanto, contam com traços que remetem a composições românticas. É o caso de Paisagem com Carro de Boi, com a movimentação curva da estrada e a árvore retorcida.
A coexistência de elementos de escolas distintas indica o conhecimento da tradição e a recusa de Volpi à pintura de observação. Na década de 1930, aproxima-se do Grupo Santa Helena, formado por artistas como os pintores Mário Zanini (1907-1971), Francisco Rebolo (1902-1980), o italiano Fulvio Pennacchi (1905-1992) e Bonadei (1906-1974). Volpi participa de excursões para pintar os subúrbios e de sessões de desenho com modelo vivo realizadas pelo grupo. Em 1936, participa de uma exposição com os membros do Santa Helena e toma parte na formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Em 1937, conhece o pintor italiano Ernesto de Fiori (1884-1945), importante figura no desenvolvimento artístico de Alfredo Volpi.
Sob a tutela de Ernesto De Fiori, aprende que o tema da pintura e suas possibilidades narrativas não são tão importantes quanto os elementos plásticos e formais. De diálogos com o artista surgem soluções como o uso de cores vivas e foscas e um tratamento mais intenso da matéria pictórica. A partir desse ano, participa dos Salões da Família Artística Paulista (FAP), organizados pelo pintor Rossi Osir (1890-1959)]. Sem abandonar o trabalho de decoração de paredes, em 1939, inicia a série de marinhas e paisagens urbanas realizadas em Itanhaém, litoral de São Paulo. Ganha o concurso promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1940, por trabalhos realizados com base nos monumentos das cidades de São Miguel e Embu, e encanta-se com a arte colonial, voltando-se para temas populares e religiosos. Também realiza trabalhos para a Osirarte, empresa de azulejaria criada no mesmo ano por Rossi Osir.
Nessa década, sua pintura passa por uma rigorosa simplificação formal. Realiza a primeira exposição individual, na Galeria Itá, em São Paulo, no ano de 1944, e participa de coletiva organizada por Guignard (1896-1962), em Belo Horizonte. No fim da década de 1940, confere à pintura uma textura rala com a aplicação da técnica da têmpera, como em Casa na Praia (Itanhaém), de 1949. Nesse período, o caráter construtivo é afirmado nos planos de fachadas, telhados e na paisagem, ao passo que certas composições gradativamente caminham para a abstração. Em 1950, viaja à Europa com Zanini e Osir e se interessa por pintores pré-renascentistas, o que confirma algumas soluções pictóricas que alcança em seu trabalho. Encontra na obra do pintor italiano Paolo Uccello (1397-1475) jogos de ilusão em que ora o fundo se opõe à figura e a projeta para a frente, ora ambos se entrelaçam na superfície da tela. Volpi constrói, assim, um espaço indeterminado que permite o surgimento de uma estrutura que se esvai, fluida, ressaltada pela têmpera, e uma forte vontade de ordenação.
O Artista participa das três primeiras Bienais Internacionais de São Paulo e, em 1953, divide com Di Cavalcanti (1897-1976) o prêmio de melhor pintor nacional. É convidado a participar das Exposições Nacionais de Arte Concreta (1956 e 1957) e mantém contato com artistas e poetas dessa vertente. Em 1958, é condecorado com o Prêmio Guggenheim, realiza exposição retrospectiva e é aclamado por Mário Pedrosa (1900-1981) como “o mestre brasileiro de sua época”. No mesmo ano, pinta afrescos para a Capela Nossa Senhora de Fátima, em Brasília, e telas com temas religiosos. Ainda na década de 1950, surgem as bandeirinhas de festa junina que, além de um motivo popular, tornam-se elementos compositivos autônomos, como em Fachada com Bandeiras (1959).
Recebe o prêmio de melhor pintor brasileiro pela crítica de arte do Rio de Janeiro em 1962 e 1966. Nas décadas de 1960 e 1970, suas composições de bandeirinhas são intercaladas por mastros com grande variação de cores e ritmo. A técnica da têmpera lhe permite renunciar à impessoalidade do uso de tintas industriais e do trabalho automatizado e mecânico, dos quais os artistas concretistas se aproximam. A prática artesanal torna-se para Alfredo Volpi uma resistência à automatização e, simultaneamente, a afirmação de seu lirismo, em vez de reiteração ingênua do gesto. A trajetória artística de Alfredo Volpi é marcada por transformações gradativas que brotam de seu amadurecimento e diálogo com a pintura. Ao unir vasto conhecimento da história da arte com a prioridade do fazer artesanal, Alfredo Volpi constrói uma obra original e incomparável.
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